domingo, 16 de agosto de 2009

O analista

"Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna delicada. Acho que sou promíscua, doutor Lopes. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também. Prepare-se para uma terapia de grupo."
― Não hexita Mercedes ao alertar o terapeuta.




Uma vida boa, estável e sem grandes emoções. Poderia ser perfeito se bastasse. Mas ela não contava com a ânsia, aquela que não pede, mas manda. Nos devora.
Por que queremos experiências devassaladoras? Teimamos em sentir cede de intensidade?
Quando parece que tudo está bem, o mesmo incomoda, a quietude apavora e a vontade de se sentir viva nos toma.
É o querer sempre mudar. O entrar de uma montanha-russa é tentador demais.
Talvez a previsibilidade seja o começo da morte em vida. E isso me faz não conseguir julgar. O mesmo definitivamente também muito me incomoda.
A intensidade vicia, tem forma, cheiro e sabor. Decide ou nos deixa confusa para qual rumo tomar.
Estou disposta a ir não sei aonde, não sei como, para sentir o algo a mais, o sentir viva.
Sentir a dor e a alegria, o tapa e o beijo, a sanidade e a insensatez de se estar viva.

Um comentário:

Lidiany Schuede disse...

céus, eu amei esse texto.